segunda-feira, 2 de maio de 2011

Do sagrado ao profano

Ocorre-me a ideia de que o céu não é para todos e a terra para os poucos seletos. Nenhuma novidade no pensamento, no entanto diante dos acontecimentos marcados pelas características dos séculos XVII e XVIII refletir sobre céu, terra e inferno parece contribuir para o entendimento dos fatos.

O final de semana na imprensa brasileira foi marcado por duas notícias históricas: de um lado a beatificação do papa polonês João Paulo II; de outro a notícia da morte do líder da Al Qaeda, Osama Bin Laden.

O domingo primeiro de maio – o tão esquecido dia do trabalhador – cravou historicamente o imperialismo cristão ocidental sobre o olhar mundial. Para aqueles que desafiavam o poder enfraquecido da Igreja Católica na conjuntura contemporânea puderam acompanhar na revista televisa Fantástico, da Rede Globo, bem como em noticiários ainda que com tempo reduzido, uma quadro inteiro dedicado ao detalhamento da vida de Karol Wojtyla que, diante de um milagre confirmado pela própria Igreja, obteve o título de Santo. A beatificação de um cardeal não ocorria há mil anos.

Para os que duvidavam das estratégias de guerra de Barack Obama e do serviço de inteligência do exército americano, que há dez anos justifica a "guerra ao terror" na caçada ao denominado líder dos ataques de onze de setembro, a notícia da morte de Bin Laden "vazou" nos meios de comunicação pouco antes das últimas horas do dia. Às vinte e três horas do horário de Brasília, Barack Obama fez um pronunciamento confirmando o ataque e a morte do líder da Al Qaeda, dizendo, ainda, que o corpo teria sido "enterrado ao mar", já que nenhuma nação aceitaria ceder um bocado de terra ao "terrorista".

Aos teóricos da conspiração cabem as não informações suficientes para anos de pesquisas e descobertas. Aos teóricos do factual restam as perguntas recorrentes das coberturas direcionadas às duas notícias que mantém entre si questões muito bem ocultadas pela imprensa brasileira. Como afirma o sociólogo Bourdieu "(...) a televisão pode, paradoxalmente, ocultar mostrando, mostrando uma coisa diferente do que seria preciso mostrar caso se fizesse o que supostamente se faz, isto é, informar (...)".

Nos periódicos virtuais as falas que legitimam as informações quando não são atribuídas às "fontes não identificadas", são as vozes dos membros da CIA. Toda informação transmitida pelos diversos formatos de comunicação tem sua origem nas agências de informações norte-americanas. Não teriam os membros da Al-Qaeda, os paquistaneses e os afegãos nenhum pronunciamento a respeito? Onde estão os intelectuais que pensam os conflitos do oriente médio nessa discussão?

A soberania, mesmo após anos de uma tentativa de democracia, está se reencontrando nas estreitas relações retomadas entre Estado e Igreja, ou fazer tal afirmação parece século XVIII demais? Há mais poder entre o céu imperial e o terror infernal que sonha nossa vã filosofia.